terça-feira, 4 de setembro de 2012

MELHORES POEMAS - MANUEL BANDEIRA



Feito por: EDUARDA MACHADO PACHECO E PATRÍCIA CARDOSO
MELHORES POEMAS – MANUEL BANDEIRA
Para entendermos a obra de Manuel Bandeira precisamos saber um pouco de sua vida.
Manuel Bandeira nasceu em Recife em 1886, ainda muito jovem descobre que tem tuberculose e se vê obrigado a abandonar suas atividades. É nesse momento, paradoxalmente, que deu-se vida à poesia, onde efetivamente nasce o poeta.
Nosso autor, depois de ter enganado muitas vezes a morte, veio a falecer em 1968, com 82 anos.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
Considerado modernista, ainda que não ativo, Manuel Bandeira experimentou influências de outras estéticas, herdeiro da musicalidade simbolista sempre se preocupou com a sonoridade harmônica evidenciado fortemente em seus poemas.
Em seus poemas é constante temas como: solidão, dor, medo da morte, o passado, a infância, a melancolia, a presença do popular, do folclórico, poesia erótico-sentimental, o cotidiano, a ternura , a solidariedade e o humor amargo. 
PEQUENOS COMENTÁRIOS SOBRE ALGUNS POEMAS:
OS SAPOS
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
  • Meu pai foi à guerra!”
  • Não foi!” - “Foi!” - “Não foi!”.
O sapo-tanoeiro,
  • Parnasiano aguado,
  • Diz: - “Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento em joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas...”

Urra o sapo-boi:
  • Meu pai foi rei” - “Foi!”
  • Não foi!” - “Foi!” - “Não foi!”.

Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
  • A grande arte é como
  • Lavor de joalheiro.

Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo.”

Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
  • Sei!” - “Não sabe!” - “Sabe!”.

Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;

Lá fugindo ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é

Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo cururu
Da beira do ri...
(1918)
COMENTÁRIOS
Esse poema teve como intuito provocar o estilo parnasiano vigente na época. A leitura do poema de Manuel Bandeira foi feita na Semana da Arte Moderna onde um grupo de artistas confrontavam os valores parnasianos que se fundamentavam na valorização da estética e da perfeição. A obra provocou muitas críticas dos parnasianistas. O poema que inicia-se com uma referência do poeta à vaidade dos parnasianos teve como proposta esclarecer uma identidade nacional – já que, até então, a arte brasileira buscava modelos estrangeiros - e o reconhecimento da liberdade de expressão.
Ao longo do poema, percebemos críticas ao parnasiano e a sua estética. São representadas por ironia ao modo perfeito parnasiano de fazer arte compondo rimas, inclusive, em termos que possuem a mesma classe gramatical.
Além disso observamos, também, a sonoridade poética herdada do simbolismo com as construções dos “P” e “b” e o jogo de palavras “Não foi! - Foi! - Não foi!” que faz analogia com o som e o pulo dos sapos.

POÉTICA
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
[protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o
[ cunho vernáculo de um vocábulo
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si
[ mesmo.

De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
[ exemplar com cem modelos e cartas e as diferentesmaneiras
[de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

COMENTÁRIOS
Esse poema de estética modernista possui versos livres e o seu conteúdo nega os valores ultrapassados das estéticas anteriores. O poema traduz a liberdade que é defendida pelos modernistas.
Há, num primeiro momento, uma repulsa aos elementos que transformam a arte em ato burocrático e num segundo momento, há uma defesa de um “lirismo libertador” sem censuras e espontâneo.Traduz perfeitamente o paradigma do movimento modernista.
O autor nega as manifestações líricas que limitam a liberdade poética, critica a forma que os procedimentos são. Da mesma maneira, ironiza o movimento romântico, dizendo que está farto desse tipo de lirismo, deixa claro que não quer mais o lirismo das formas tradicionais, dos movimentos tradicionais e sim uma liberdade poética como forma de arte autêntica.



O CACTO
Aquele cacto lembrava os gestos desesperados da estatuária:
Laocoonte constrangido pelas serpentes,
Ugolino e os filhos esfaimados.
Evocava também o seco Nordeste, carnaubais, caatingas...
Era enorme, mesmo para esta terra de feracidades excepcionais.

Um dia um tufão furibundo abateu-o pela raiz.
O cacto tombou atravessado na rua,
Quebrou os beirais do casario fronteiro,
Impediu o trânsito de bondes, automóveis, carroças,
Arrebentou os cabos elétricos e durante vinte e quatro horas privou a cidade de iluminação e [energia:

  • Era belo, áspero, intratável.
COMENTÁRIOS
Composto por três estrofes irregulares de versos livres, o poema deBandeira mostra-se inusitado desde sua abertura ao valer-se de referentes artísticos para sugerir a compleição de um ente natural, o cacto do título.
A primeira referência diz respeito a Laocoonte, sacerdote do templo de Apolo em Tróia e o único a desconfiar do plano de invasão da cidade pelos gregos, escondidos no famoso cavalo de madeira de enormes proporções. O episódio, descrito integralmente por Virgílio na Eneida serviu de argumento e modelo para as representações picturais e escultóricas do mito.
A segunda referência, a “Ugolino e os filhos esfaimados”, diz respeito ao conde pisano Ugolino della Gherardesca, acusado de traição pelo arcebispo local, seu antigo aliado e por ele encerrado, na companhia dos filhos, na “Torre da Fome”, onde definham até a morte. Ao contrário de Laocoonte, cujas representações mais conhecidas são plásticas, Ugolino é conhecido, sobretudo, pelo relato que faz a Dante na Divina Comédia, logo no início do Canto XXXIII do “Inferno”. A dramaticidade do tema despertou o interesse de Jean-Baptiste Carpeaux, que o trabalhou no mármore, e de Rodin, que o transpôs para o bronze.
A terceira referência, em oposição às duas primeiras, aponta para dados concretos da realidade brasileira, evocando o cenário de origem do cacto, e do próprio poeta: o “seco Nordeste”.
Ao articular referências a temas tradicionais das artes plásticas e dados concretos de uma realidade distinta a esses temas, Bandeira dá mostras de seu processo heterogêneo de composição poética
Como compor, nesse caso, a imagem do cacto, que permeia e organiza toda a construção do poema? A resposta talvez esteja nos verbos escolhidos por Bandeira para intermediar a relação entre a forma do cacto e as obras artísticas de que se vale: ‘lembrar’ e ‘evocar’.

PNEUMOTÓRAX

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire. 

…...............................................................................................................................

- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
COMENTÁRIOS
O poema Pneumotórax apresenta um tema autobiográfico num tom coloquial e irônico. O segundo verso pode ser considerado como síntese da vida do poeta.
Vemos a presença de um humor absurdo diante da morte sem remédio, poema-piada típico do modernismo.
Na primeira parte relembrando seu lado simbolista é sugerido pelos fonemas b/p/t/d/ um som da tosse intensificado pela onomatopeia tosse, tosse, tosse. Na segunda parte, a linha pontilhada marca uma quebra tanto na narrativa como na respiração. Na terceira e última parte, observamos um eufemismo para desenganar o paciente. O doente se agarra a uma esperança, mas o médico acha tudo inútil e recomenda que toque um tango argentino, utilizando dos fonemas /t/ (tocar um tango argentino)procurando imitar a tosse do enfermo.


VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
COMENTÁRIOS
Nesse poema, Manuel Bandeira comenta que foi o que mais demorou para ser feito. Encantou-se pelo nome Pasárgada que significa campo dos persas.
O eu-lírico contrapõe o mundo real, em que se encontra, e o imaginário para qual deseja ir a Pasárgada, um lugar em que os sonhos podem ser realizados. O tema central é a evasão espacial e temporal.
O poema estruturado em sete sílabas métricas, ou redondilhas maiores, marca um ritmo acelerado e reforça a ideia da vida intensamente vivida, o desejo do eu-lírico na sonhada Pasárgada.

CONSOADA
Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.


COMENTÁRIOS
É um texto metafórico e trata de um tema universal,a morte. A metáfora seria a associação que o eu-lírico faz entre a “preparação para o banquete e a preparação para a morte”. Numa linguagem subjetiva, usa o termo 'consoada' como se estivesse pronto para receber a visitante: a morte. Aquela iniludível, que não engana ninguém e que mais cedo ou mais tarde chegará a todos. Este poema é sem métrica regular; pois suas características são da 1ºfase do modernismo brasileiro:FASE HERÓICA OU DE DESTRUIÇÃO: de combate e destruição, quando ocorre a libertação linguística e são afirmados os valores estéticos do movimento.

ARTE DE AMAR
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação,
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.


COMENTÁRIOS
O poema ” Arte de amar”, também, tem a morte como tema constante. Todavia, não encontramos neste poemas, uma ironia tão acentuada. Os versos em “Arte de amar” são curtos; aqueles um pouco maiores recebem a vírgula, que tem como característica precípua a função realizar as pausas.
As figuras de linguagem não possuem nesse poema papel preponderante. O sujeito lírico por meio dos versos quer passar uma ideia do que ele entende por amor de como se dá essa arte.
No primeiro verso o sujeito lírico diz que: “Se queres sentir a felicidade de amar, esqueça a tua alma. No verso seguinte fala que: “a alma é que estraga o amor.” Neste ínterim, baseando nestes versos, poder-se-á falar que para sentirmos a alegria de amar devemos abdicar das nossas vontades. O versos subsequentes, dois e três, evocam o amor ágape, que na língua grega significa o amor, caridoso, compassivo. Esta forma de amor é o amor-compaixão, “é o sentimento que nega a vontade ao invés, em vez de afirmá-la.” Com estes fatores explicitados anteriormente em mente, para o sujeito lírico a alma só encontra aprazimento quando está em contato com Deus, e não em outra alma. Além disso, diz que a satisfação não pode se dar com nenhum outro ser terreno.
O sétimo verso é pautado por um leve erotismo, pois os corpos se entenderão apenas com outros corpos. Isto demonstra que para o sujeito lírico o amor se dá apenas por meio de algo erótico, este sentimento é diferente do ágape. Chegando até a ser pessimista em relação ao amor
Para findar, faz-se necessário frisar que “A arte de amar” é um poema reflexivo onde as rimas praticamente inexistem. Ele se aproxima bastante de um texto em prosa, porém não perde seu caráter poético através dos versos. É um poema escrito por Manuel Bandeira em seu melhor estilo.





 



 






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